Na sua plenitude profissional, após ter conseguido um estilo próprio e independente relativamente aos estilos históricos, Antoni Gaudí projetou a que se converteria nas sua última obra civil e, ao mesmo tempo, numa das mais inovadoras: a Casa Milà (1906-1912).
Ao longo dos anos o edifício alojou hóspedes ilustres, alguns hotéis, a sede dum consulado, um bingo, escritórios de empresas, lojas e inclusive um príncipe e o seu séquito.
A valorização da obra de Gaudí, e consequentemente de La Pedrera, foi mudando ao longo do tempo: da polémica à desídia, até chegar à total admiração e valorização duma obra fundamental da arquitetura.
«Quando o edifício tem simplesmente o que necessita com os meios disponíveis tem carácter ou tem dignidade, que é o mesmo.» Antoni Gaudí
Cronologia
1905
Pere Milà i Camps (Barcelona, 1873-1940) e Rosario Segimon i Artells (Reus 1871 – Barcelona 1964) casam-se.
9 de junho de 1905
Rosario Segimon, atraída pela fama de Passeig de Gràcia, compra uma torre com jardim que ocupa uma superfície de 1835 m2, situada no número 92. Encomendam ao arquiteto Antoni Gaudí (que nesse momento tinha 54 anos) a construção da sua nova residência, com a intenção de ocupar o andar principal e alugar as restantes moradias.
2 de fevereiro de 1906
São apresentados à Câmara Municipal de Barcelona os planos do projeto assinados por Antoni Gaudí e solicita-se a licença de obra. Iniciam-se as obras de construção.
27 de dezembro de 1907
Denúncia da Câmara Municipal de Barcelona porque um dos pilares da fachada ocupa uma parte do passeio de Passeig de Gràcia.
17 de agosto de 1908
A Câmara Municipal de Barcelona abre um expediente porque o edifício excede o volume de construção permitido. Requer-se aos proprietários a legalização mediante o pagamento duma multa de 100 000 pesetas ou a demolição do sótão e do terraço.
28 de dezembro de 1909
A Comissão do Eixample certifica que o edifício tem carácter monumental e não deve ser ajustado de forma rigorosa ao regulamento municipal.
5 de julho de 1910
Finalmente se concede a licença de obra.
22 de dezembro de 1910
A pedido da Sra. Milà, Gaudí assina o certificado de finalização da obra do andar principal, no qual se indica que uma vez terminadas as obras da restante finca expedir-se-á um novo certificado.
Outubro de 1911
Obtém-se a licença da Câmara Municipal de Barcelona para habitar o andar principal. Os Milà mudam-se para lá.
31 de outubro de 1912
Gaudí certifica o final das obras; no documento declara que, de acordo com os seus planos e sob a sua direção, a obra se encontra terminada e toda a casa está à disposição para ser alugada.
A singular estrutura do edifício e a relação entre Gaudí e Milà são objeto de piadas publicadas em revistas satíricas da época.
1929
Instala-se a primeira loja no piso térreo do edifício, a alfaiataria Mosella.
1936
A Casa Milà é confiscada pelo Partido Socialista Unificado de Catalunha (PSUC). Durante boa parte da guerra é a sede da Consejería de Economía y Agricultura, com a residência particular do Conselheiro, Joan Comorera (Cervera, 1894 – Burgos, 1958), no andar principal.
1946
Rosario Segimon, viúva desde há 6 anos, vende o edifício à Imobiliária Provenza, mas continua a viver no andar principal até à sua morte, em 1964, aos 93 anos.
1953
A Imobiliária Provenza encomendou ao arquiteto Francisco Juan Barba Corsini a construção de treze apartamentos no sótão do edifício. E também a transformação do primeiro andar da Carrer de Provença em quatro apartamentos de 100 m2 cada um.
30 de outubro de 1962
La Pedrera é incluída no Catálogo do património artístico da cidade de Barcelona. Trata-se do primeiro inventário que redige o Estado espanhol para se encarregar da conservação dos monumentos da cidade. Categoria A/Cap.1.
20 de agosto de 1969
O governo espanhol inscreve-a como Monumento histórico-artístico de interesse nacional. D. 17/94/1969,24-7; BOE 20/8/1969. Nível A (Bem cultural de interesse nacional), máxima categoria de proteção.
2 de novembro de 1984
A UNESCO inscreve-a como Bem cultural do património mundial devido ao seu valor universal excecional, ref. 320bis.
Dezembro de 1986
Caixa Catalunya compra o edifício à Imobiliária Provenza.
1987
Abre-se a visita ao terraço de La Pedrera, até então inacessível ao público. Iniciam-se as obras de restauração, que duraram 10 anos, para converter a Casa Milà num centro cultural aberto a todo o mundo.
Julio de 1992
Inaugura-se a reabilitação do andar principal como sala de exposições temporárias com a exposição “Vanguardias en Catalunya”, que faz parte do programa cultural dos Jogos Olímpicos de 1992.
Dezembro de 1994
Inauguração do espaço da cave (antigas cocheiras) como auditório.
Junio de 1996
Terminam as obras de restauração de todo o edifício.
La Pedrera oferece-se simbolicamente à cidade a 27 de junho de 1996 com o lema «Por Barcelona não contribuímos com um grão de areia, mas sim com toda uma Pedrera».
Inaugura-se o Espaço Gaudí no sótão do edifício, um espaço museológico para dar a conhecer a vida e a obra do arquiteto. Obtém o prémio ACCA (Associació Catalana de Crítics d'Art) às melhores iniciativas culturais e artísticas do ano, porque representa o fim do processo de restauração e dignificação de La Pedrera e uma das demonstrações mais fieis das inovadoras formulações estruturais de Antoni Gaudí.
1997
A Generalidade da Catalunha outorga o Prémio Nacional da Cultura, dentro da secção Património Cultural, à restauração do sótão e do terraço de La Pedrera.
Julio de 1999
Inaugura-se o Apartamento de La Pedrera, uma recriação do apartamento e vida duma família abastada do primeiro terço do século XX, reconstruído integramente com os elementos originais que configuram o interior duma moradia em La Pedrera.
2001-2003
Segunda grande intervenção para restaurar a fachada, realizada em quatro fases diferentes que permitem a celebração do Ano Gaudí (2002).
2002
Participa nas celebrações do Ano Internacional Gaudí com a exposição Gaudí. Arte e design.
27 de novembro de 2006
Inaugura-se a reforma do Espaço Gaudí (no sótão) como centro de interpretação da vida e obra de Antoni Gaudí, com uma especial atenção a La Pedrera.
Novembro – dezembro de 2012
Celebra-se o centenário do fim da construção da Casa Milà com um programa de atividades que combina o carácter essencialmente festivo de toda a celebração com diversas propostas culturais e artísticas.
Janeiro de 2013
La Fundaçao Catalunya La Pedrera nasce a 1 de janeiro para responder com uma nova visão a uma nova realidade social. La Pedrera é, desde a sua constituição, a sede da Fundaçao Catalunya La Pedrera, que destina as receitas das suas entradas a projetos sociais, ambientais, educativos e culturais.
2014
Terceira grande intervenção na fachada de La Pedrera: limpeza da pedra da fachada, restauração de algumas fissuras produzidas pela passagem do tempo e reparação de alguns ferros forjados das varandas.
Bibliografia básica sobre La Pedrera
Joan Bassegoda. La Pedrera de Gaudí. Barcelona, 1986.
Joan Bassegoda. Josep Bayó Font, contratista de Gaudí. Barcelona, edicions UPC 2002.
VVAA: La Pedrera. Gaudí i la seva obra. Barcelona, 1998.
VVAA: La Pedrera: arquitectura i història. Barcelona, 1999.
VVAA. Gaudí. Art i disseny. Catalogo Exposició Any Internacional Gaudí, La Pedrera. Barcelona, 2002.
Isidre Puig Boada. El pensament de Gaudí. Barcelona COAC (ed. catalã), 1981. Editorial Dux (ed. castelhana), 2015.
Galdric Santana. La Pedrera sostres. David Ferrer. La Pedrera Forja. Barcelona, Triangle books, 2015.
CD-ROM: Gaudí Art i Tècnica. Barcelona, 2002.